O que Farias se te convidassem a deixares o teu posto de coordenadora, estivesses com 10 faltas injustificadas num ano, levasses um processo disciplinar, fosses 3 dias para casa sem receber e acabasses com um caso em tribunal, depois de anos  iludida a vestir a camisola?

e onde o lema era:

” Tens de entrar no Sistema”, diziam me constantemente.

Entrar num sistema que eu tinha deixado de acreditar e que já não fazia sentido nenhum para mim…

Sistema agora só o Sistema blog viral, que me permite ganhar dinheiro a fazer o que gosto e ter mais tempo para mim e a minha família.

No dia 27 de Abril comecei a trabalhar numa fábrica de produtos eletrónicos (auto rádios, clusters, dvd…), tinha 19 anos e como te disse no artigo Quem sou eu era  uma pessoa muito revoltada, mas muito curiosa e que adora Aprender.

Precisavam de pessoas para abrir o 3ºturno com horário das 0.00 as 8h e eu ofereci me, num instante fiz amigos e também “inimigos”

Fizemos uma formação de 3 meses e fiquei encantada com a “fábrica dos meus sonhos”, mesmo com os conflitos que arranjava devido ao meu feitio, pois ainda não tinha maturidade suficiente para entender certas coisas.

Sempre tive a sensação que não estava no planeta terra, dai estar me sempre a questionar…

Trabalhei como operária fabril durante uns meses e depois precisaram de uma coordenadora e na altura ainda eram as pessoas que escolhiam e fui eleita. Umas ficaram contentes, outras nem por isso.

Nunca vamos conseguir agradar a todos. Por isso sê TU mesma(o).

Já agora, quem és Tu? Sim é contigo que estou a “falar”

Gostava de saber um pouco da tua história, para saber como te posso ajudar, podes sempre partilhar abaixo neste artigo, se essa for a tua vontade, ou em privado no skype: sandra.galao

Durante muitos anos vesti a camisola, e sempre fui muito exigente comigo e com as pessoas com quem trabalhei.

Sou daquelas pessoas que ou se AMA ou se Odeia. Feitio especial, diziam.

Aprendi tanto e conheci milhares de pessoas. O 2º e 3º turno trabalhavam muito com pessoas de trabalho temporário e enquanto  o 1ºturno, a maioria das pessoas são do quadro da empresa, nas linhas trabalhavam homens e mulheres.

Eramos todos muito jovens na altura, dispostos, mas muito imaturos.

Ninguém queria ficar na linha da Tagarela (alcunha que me deu a minha amiga aguarela (Teresa) pois eu ara demasiado exigente e “obrigava” a malta a ser Bestial e profissional, posso dizer te que as verdadeiras profissionais que tinham brio no que faziam, adoravam trabalhar comigo, e ficavam bem nervosas quando tinham de ir trabalhar em outras linhas..

Tudo, porque era permitido partilhar opiniões.

Ainda chegamos a mudar alguns procedimentos, e layouts…

Na altura irritava me sempre que aparecia um novo procedimento e só alguns cumpriam, arranjava sempre grandes confusões.

Trabalhávamos em 3 turnos. (1º, 2º e 3º).

O 1º turno era onde estavam todos os diretores, supervisores, chefes e engenheiros e nas linhas de produção trabalhavam exclusivamente com mulheres, e eu nunca consegui perceber muito bem porque trabalhavam tão mal…

Só descobri quando mudei para o mesmo (conto-te mais a frente).

O 2º turno era composto principalmente pela malta trabalhadores/estudantes, um turno mais “legalize”. Também cheguei a trabalhar algumas vezes neste turno.

Sempre pensei que fossemos uma fábrica composta por 3 turnos, mas com o tempo descobri que eramos 3 fábricas cada um com o seu horário e procedimentos, não eramos parceiros e sim concorrentes….

O 3º turno sempre foi muito mal visto pelas pessoas dos outros turnos, pois praticamente sem chefes, conseguíamos ser os melhores em produção, scrap, rejeitos de qualidade. Modéstia a parte, sabíamos bem o que tínhamos de fazer para termos os resultados que tínhamos. Claro que isto não acontecia nas linhas todas, nem com todos os coordenadores, e nos outros turnos também havia pessoas muito competentes…

Lembro-me que só tínhamos 30m de jantar e 10m de break (lanche) e como eramos muito bons naquilo que fazíamos, conseguia quase sempre dar mais 10m de jantar(ceia) e outros 10 de break.

Conseguíamos sempre atingir os nossos objetivos, era raro o dia em que não o fazíamos, mas também fazia reuniões todos os dias, antes de começarmos a trabalhar para falar sobre o dia anterior e o que poderíamos fazer para melhorar o sistema, o scrap (peças que se estragavam), a ergonomia e a qualidade.

Todos podiam dar a sua opinião, só assim conseguíamos  melhorar. Na altura fazia-o por instinto, hoje sei… Para que possamos dar o nosso melhor,  e trabalhar motivados temos que poder dizer o que pensamos, não como ouvi algumas vezes, chefes do 1ºturno  a dizerem para operadoras:

– Tu não está aqui para pensar e sim para trabalhar.
Se ouvisse metia me sempre, e perguntava se ele(chefe) achava que nós eramos robôts?

Ao que ele respondeu:

– O que achas?
Pois é, na altura, discuti, argumentei, hoje sei, somos robôs (eu já não, pois libertei-me a tempo), números, pessoas acomodadas pela crise, pelo ordenado certinho ao fim do mês, pelo seguro de saúde que dá tanto jeito, pelo Medo das incertezas, mas não faz mal nenhum, eu também passei por essa situação, hoje sei, que o que custa é dar o primeiro Passo…

Quando partilho aqui esta minha história é para te mostrar que podes mudar, assim que o decideres

Na realidade eramos escravos daqueles senhores diretores que só pensam numa única coisa: DINHEIRO, LUCRO, não importa como, os “números tem que produzir”.

Mas não faz mal nenhum, estamos todos em constante mudança, quer queiramos, quer não.

Quando te conto esta passagem da minha vida é  para que possas estar mais alerta para as oportunidades que aparecem na nossa vida e as vezes não as vemos.

Criatividade nunca me faltou. Estávamos sempre a inventar coisas para o trabalho não se tornar uma seca. Houve uma altura que cada pessoa que deixasse passar algum defeito para a frente  fazendo a inspeção progressiva, (para quem não sabe, é inspecionar o trabalho da colega anterior, com o objetivo de fazer bem à 1ª) tinha de pagar 20escudos, imagina, se fosse um defeito ex: parafuso mal apertado) da 1ªposição (eram 8) e só apanhassem na 7ªposição, todas as pessoas até à 7ª pagavam 20escudos.

Esse dinheiro depois servia para irmos jantar fora e conviver um pouco… Eu Gostava muito da minha forma de ajudar os “meus meninos” a progredirem e a trabalharem num bom ambiente de trabalho.

É fundamental concordas? 

Quando entrava pessoal novo entrava muito dinheiro e riamos muito também, pois já tinha uma equipa bem preparada e as vezes confiantes demais. Era uma maneira de saber rapidamente quem estava a cumprir com a inspeção progressiva. pois como dizia a minha amiga Isa, depois de aprendermos a colocar os parafusos e a testar os rádios, pouco se podia aprender.

Sábias palavras, tínhamos mesmo que ser criativas, para aquele trabalho tão repetitivo.

Houve várias pessoas com quem adorei trabalhar e que me ajudaram muito na minha evolução como pessoa, a Isa foi sem duvida uma delas.

A Isa é  o contrário de mim, é daquelas pessoas muito terra a terra, super inteligente, que por enquanto só acredita no que vê, mesmo tendo umas histórias bem estranhas sobre “presenças”, tem sempre uma explicação cientifica.

Tem um coração enorme.
O que temos em comum: o Coração enorme. Muito agradecida minha querida por todos os conhecimentos e partilhas.

Ainda fizemos umas quantas coisas juntas, mas fica para um artigo das viagens. Já agora: Conheces o teorema de Pitágoras? AHAHAHAHAHAHAHAHAHA … Desculpem, não resisti escrever o que me ia na alma!

Esta pergunta foi só para as presentes na viagem a Amesterdão  😆 

QUANDO SOMOS INGÊNUOS, SOMOS ENGANADOS, concordas?

Disse te que tinha sido eleita coordenadora uns meses depois de estar a trabalhar nas linhas em 1994, adorava o que fazia e fazia-o com gosto.
Em 1997 colegas minhas da área A mexeram-se juntamente com o sindicato e passamos a receber 6000 escudos pela função que até então era igual a das minhas colegas sem as funções de coordenação.

Estivemos 3 anos sem receber 1escudo pelas funções desempenhadas.

Depois apareceu uma nova situação, onde a nossa categoria no recibo era 00010 e teve de passar a supervisor durante uns anos para voltar a ser alterada para coordenadora de linha de montagem.

Não sou muito boa em datas mas tenho ainda o meu dossier com todos os recibos da altura muito organizados por ano. Deram-me jeito quando coloquei a empresa em tribunal e para me recordar…

O valor do subsidio só voltou a alterar em 2001 para 89euros e em 2006 para 100e, altura em que me retiraram o mesmo.
Nunca conseguimos que o valor fosse colocado no ordenado base.
Durante anos entraram e saíram pessoas, umas perderam logo o subsidio, outras estiveram anos a recebe-lo (procedimentos não cumpridos pelos chefes).

Posso dizer-vos que os procedimentos existiam, só que só alguns cumpriam, como em todo o lado.

O meu chefe João Carlos na altura foi convidado a mudar de área e eu fiquei bem triste pois é uma pessoa que admiro muito e que também me ajudou na minha evolução como profissional e eu sentia que ele acreditava em mim e sabia as minhas capacidades e quando se foi despedir disse-lhe que devia ter-me levado com ele e durante 7 anos trabalhei na área B onde fazíamos os auto rádios e ele convidou-me para ir para uma área completamente nova para mim mas mais um desafio, agora que vou contando a minha história, como agora, sempre gostei muito de desafios e tu?

Gostas de desafios? Ajudam nos a crescer e a evoluir como pessoas, sabias?

Os clusters (conta km do carro), airbags, entre outros, e eu apesar de adorar a equipa que tinha, tão bem preparada resolvi aceitar o novo desafio  pois ali já tinha cumprido com a minha parte.

Não foi fácil pois tive de aprender muitas coisas novas, e votei a entrar em conflito com algumas pessoas.

Mas sempre gostei muito de Aprender

O João era um chefe muito exigente, mas era exatamente isso que eu admirava nele.
Estávamos sempre a mudar de chefes.

Em 3ºT o chefe normalmente era um técnico nível qualquer coisa.

ABRE A PESTANA! Estás a Vestir a camisola Errada!?

Sempre fui muito empenhada e dedicada (hoje sei que demais em certos casos) mas sou mesmo assim, como diz uma amiga minha:

– “Fazes tudo com muita paixão”.

E é mesmo verdade, não sei ser meio termo. Quando me dedico a algo é mesmo para fazer acontecer, só se não depender de mim, porque tem mesmo de depender de mim…

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Não me lembro do ano, mas foi talvez em 2002, que o chefe de 1ºT, veio ter comigo e me perguntou:

– Tu andas na faculdade?
Ao que respondi que não.

E ele:

– Nem nunca frequentas-te? disse: -Não.
– Porque estas a perguntar me isso?
– É que precisamos de um chefe responsável para 3ºT, mas precisavas de frequentar ou pelo menos estar inscrita!?!
– Desculpa? Estás a dizer-me que tenho as competências, mas por não ter o “canudo” já não sirvo?
– Sabes que não depende de mim, são os procedimentos, eu sou só o mensageiro.

Sim fiquei chocada! Tu não ficavas, o meu marido, estava sempre a perguntar-me em que mundo é que eu vivia?!?! Sim, tem alturas que parece que não pertenço aqui…

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Foi quando me comecei a questionar mesmo a sério o que andava ali a fazer, e comecei a assistir aos plenários do sindicato e a saber de muitas coisas que não sabia porque ficava a trabalhar na linha enquanto as “minhas” pessoas iam assistir.

Continuei a fazer o meu trabalho, sempre com o mesmo profissionalismo, mas agora com menos dedicação e mais alerta para os meus direitos.

CHOQUE DE REALIDADE! 

E Quando nos  MUDAM a nossa VIDA SEM DÓ NEM PIEDADE?

Tínhamos uma equipa espetacular em 3ºT,  mesmo os coordenadores eram boa onda, cada um com a sua forma de coordenar, mas sempre com o mesmo objetivo.

Cumprir com os procedimentos, as produções, ter qualidade e bom ambiente de trabalho, nem sempre acontecia, mas tentávamos.

 O pessoal gostava de ser competitivo, do género, os testadores só faziam 50 módulos por hora, tendo em conta as falhas, e o pessoal num instante mostrava que podíamos chegar aos 60 ou mais…hehehe. Sei que por vezes nos prejudicávamos, mas estava no sangue…

Na altura, dizia as pessoas que tinham que ter atenção  às faltas, a assiduidade, que os procedimentos tinham de ser cumpridos, para poderem passar a efetivos e só assim os poderia defender (como aconteceu várias vezes), outras não pude fazer nada.
“Podes sempre andar a mais de 120km/h, mas se a policia te apanhar, tens de arcar com as consequências, certo? Era o que acontecia aos meninos, que tinham preguiça de cumprir os procedimentos e eram apanhados, e nem sequer sabiam argumentar.

Eu só via como falta de brio Profissional.

Em 2004 estava um grupo de especialistas a contrato que iriam passar a efetivo ou ser dispensados pois era o 3º contrato

Que grande choque levamos quando nos disseram que não havia escolha, todos iriam embora devido a baixa de produção e mudanças na chefia, e nós com tantas pessoas que lá tinhamos a trabalhar que deveriam ser dispensadas, pois não queriam saber de nada, só do ordenado ao fim do mês… mas já tinham muitos anos de vida e faziam parte dos quadros..

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Juntei uns quantos coordenadores e fizemos uma bela Revolução,

Chegamos até ao diretor  que só falava Inglês, que ficou impressionado com a nossa revolta, a Isa estava presente para traduzir, e as vezes recusava se a traduzir o que eu dizia,  pois achava muito forte e disparatadas pela Raiva que sentia..

-Eu não posso dizer isso. E eu danada respondia:

– Tu vieste para traduzir, não foi para concordar, lembras te Isa?

Mas claro, ela não dizia, ou melhor, dizia de outra forma, mais sensata.

Ficaram de nos dar uma resposta na semana seguinte, não dava para ficarem todos, mas iam ver o que poderiam fazer.

As pessoas que eles queriam mandar embora eram as melhores que tínhamos na altura:

Dedicadas, muito profissionais, pontuais e assíduas, ou seja, tudo o que dizíamos as pessoas sobre brio profissional era uma tanga, passei-me!

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Tivemos entretanto um plenário onde nos informaram que a empresa em Espanha tinha tido menos lucro que nós e iam ter um aumento bem superior ao nosso.

Propuseram uma Greve de 2horas no local de trabalho.

Claro que alinhei e ainda arrastei umas dezenas de pessoas a fazê-lo, com o meu discurso de revoltada.
Na 2ªfeira tivemos a resposta e as pessoas foram quase todas dispensadas, só se safaram umas que não tinham aderido a greve.
Fiquei mesmo de rastos.

Já não sabia muito bem o que andava ali a fazer.

Houve mudanças de chefe, e para meu azar, hoje digo sorte, só assim tive oportunidade de fazer o que mais gosto, o chefe que iria para a nossa área, (só la esteve para mudar a minha vida) era um chefe com quem já tinha tido um grande atrito sobre qualidade (quando ele desempenhava a função de engenheiro de qualidade) e nem tive hipóteses.

O meu chefe de turno veio ter comigo e disse-me que ia mudar de turno e deixar de ser coordenadora, porque tinha feito greve…
O quê? Mas eu também tenho direito a fazer greve. Voçês estão é muito mal habituados.

Nem imaginas a confusão que arranjei. Eu sou muito boa a vestir a camisola, mas não gosto nada que me façam de parva.

Gosto de mudanças mas quando sou avisada…

Gritei, chorei, barafustei, contestei, disse que ia de baixa, que eles não podiam fazer aquilo, que é meu direito fazer greve…

Fui para casa e no dia seguinte, depois de falar com o maridão e mais calma, resolvi encarar o novo desafio que eu não pedi, mas como já andava a “pensar” em ter filhos, tinha de ser. Só assim mudaria de turno.

E no dia 5 de Julho de 2004 apresentei-me em 1ºt, no horário das 8h às 16h30, novamente como operaria fabril, mas com uma bagagem muito maior de conhecimento e maturidade.

A parte da menina revoltada perseguiu-me até me vir embora da fábrica, mentira, até aprender que as histórias só ganham significado, quando aprendemos a conta-la novamente mas sem nenhuma magoa, como faço agora… Sò aprendizagem

No ultimo dia de trabalho, recebi as minhas flores preferidas (orquídeas) do pessoal do 3ºturno.

Muito grata a todos, por tudo o que aprendemos e crescemos juntos…

O inicio do Fim

Este artigo esta demasiado longo, por isso resolvi dividi-lo em  partes.

Espero que estejas a gostar das minhas aventuras e a retirar algum conhecimento para ti, pois é por isso que escrevo, para te poder ajudar de alguma forma.

Sei que gostavas de saber como acabei por levar  um processo disciplinar, ter um caso em tribunal e, tantas faltas injustificadas num ano… enfim como brinco e digo muitas vezes:

 Como passei de Bestial a Besta?

Prometo que estarei de volta com o final desta minha aventura na Fábrica que eu achava que era dos meus Sonhos

Se alguém te desiludiu, é porque andaste iludido, podes deixar de ser um numero e começar um negócio teu, onde podes partilhar o que tens de melhor…

Muita Luz no teu coração.

Sandra Galão

Skype: sandra.galao